segunda-feira, 7 de maio de 2007

DOM PEDRO: A CIDADE QUE MANOEL BERNARDINO CRIOU!



HINO DE DOM PEDRO (INTERPRETAÇÃO)

Nasceste entre belezas naturais
Com teu resplendor tão relutante,
Sob um lindo céu de azul constante
E verdes matas de babaçuais

Teu povo em luta trouxe a ti a glória,
Empunhando a bandeira da Libertação
Com coragem e orgulho
Te proclamaram cidade do Maranhão

Dom Pedro, Dom Pedro, Dom Pedro,
Antiga Mata do Nascimento,
Tua história, tuas lutas, tuas glória,
O teu povo guarda sempre na memória

Dom Pedro, Dom Pedro, Dom Pedro,
Esperança de um grande povir,
Berço amado e varonil,
Do nosso Maranhão e do Brasil

A 1ª estrofe fala das belezas naturais que DOM PEDRO tinha quando ainda se chamava "Mata do Nascimento", inclusive as matas de BABAÇUAIS que têm na região.No começo, Dom Pedro era um distrito da cidade de CODÓ.
A 2ª estrofe fala da luta que tivemos para alcançar a liberdade de Codó e ser uma nova cidade no Maranhão.
A 3ª estrofe fala do primeiro nome da cidade, que era Mata do Nascimento, e que ninguém esquecerá sua história e suas glórias. Também o autor nessa estrofe deixa esperanças para um futuro melhor para a cidade




RESUMO SOBRE A HISTORIA DE DOM PEDRO




A progressista cidade de Dom Pedro, situada na Região de Presidente Dutra, com mais 14 municípios, que totalizamaquela região maranhense, possui uma área, segundo as mais atualizadas estatísticas do IBGE de 369,964 km², habitados por 23.100 habitantes, com uma densidade demográfica de 62,44 habitantes por quilômetros quadrados.

Seu primeiro nome foi Mata do Nascimento, em homenagem ao seu primeiro habitante, quando ainda fazia parte do território codoense, ter sido Manoel Nascimento por volta de 1915. Através da Lei nº 815, de 9 de dezembro de 1952 foi desmembrada do município de Codó e se instalou solenemente como cidade em 1º de janeiro de 1953.

Dentre os capítulos históricos do valoroso povo de Dom Pedro é marcado um dos mais dolorosos atos de covardia e abuso de poder, acontecidos em seu território, que foi o famoso movimento de Manuel Bernardino de 1922, quando o citado lavrador liderando um considerável grupo de seus companheiros camponeses, dirigiu-se à chefia da Administração Municipal, em Codó, e pleitearam a criação de um colégio para os seus filhos, os quais não tinham opções de estudar. Apesar de ordeiramente terem feito por demais justo pleito. Não foram, porém, compreendidos. Para enorme surpresa e decepção de toda população da antiga Mata do Nascimento, foram-lhes atribuídas, unicamente, censuras por demais violentas e ameaças sinistras.
Com esta inesperada reação das autoridades municipais codoenses os lavradores reagiram e passaram a protestar, mesmo, ofendidos, agiram sem violência. Entretanto, os dirigentes municipais solicitaram, urgentemente, ao Governo do Estado uma força volante da Polícia Militar para acabar com tal movimento e imediatamente o Governo mandou a tal tropa sob o comando do tenente Henrique Dias, com ordens por demais violentas.
O comandante executou ao pé da letra o que lhe foi determinado fazer no Centro da Mata do Nascimento.
Foi uma verdadeira carnificina, a força volante fuzilou sem dó ou piedade centenas de indefesos lavradores o sangue de inocentes camponeses serviu para alicerçar a independência, emancipação da sua urbe. Mesmo assim, somente em 1928, foi criada a primeira escola municipal, tendo a gleba a sua primeiríssima professora, que foi a professora Guilhermina Chaves. Em 1931, a gleba da Mata do Nascimento foi elevada à categoria de Vila, recebendo o nome de Vila Pedro II. Em 1943, por Decreto-lei federal foi proibida a existência de dois topônimos iguais aplicados àquela Vila, devido que no vizinho Estado do Piauí, existia uma cidade com o nome de Pedro II e ser mais antiga foi determinado que a Vila mudasse de nome.

Ficou na alçada do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, a incumbência de efetuar a devida troca de nominação, que acabou a referida Casa de Cultura maranhense, sugerido e os poderes competentes, oficializando o nome da Vila como Dom Pedro, denominação, que agradou a todos os seus habitantes e foi mantida a homenagem ao imperador Pedro II.


IMPERADOR DO BRASIL - DOM PEDRO II

Em 1951, o deputado do Partido Republicano, Manoel de Oliveira Gomes, aliado ao Sr. Alcebíades de Melo Lima, líder local e com o apoio maciço da população da Vila iniciaram uma forte luta para conseguirem em 1952, a Assembléia Legislativa do Estado aprovar a lei acima citada, que transformou a Vila em município e o emancipava dos domínios codoenses.
Em 1º de janeiro de 1953 foi nomeado e empossado o seu primeiro Prefeito, Sr. Lídio Brito. Para em 31 de janeiro de 1955, ser eleito o seu primeiro Prefeito, através da escolha democrática dentre seus habitantes, que foi o Sr. Ananias de Morais Costa. Nesta mesma data, foi instalada a sua Câmara Municipal composta dos seus primeiros nove vereadores e sua Mesa Diretora foi assim constituída: Presidente – Alcebíades de Melo Lima; Primeiro Secretário – Manoel Cabral Pereira e Segundo Secretário – Jorge Fernandes da Silva.


O seu principal acidente geográfico é o rio Codozinho, com pequena profundidade não é adaptável para navegação. A sua riqueza natural é invejável com um solo por demais fértil e com imensos babaçuais. A sua população é grande parte católica, sendo a sua Santa Padroeira Nossa Senhora de Nazaré, cujo festejo é realizado anualmente de 31 de agosto a 8 de setembro, outra festa religiosa que tem destaque na cidade é de São Francisco de Assis. Sua Cultura Popular é forte, onde reluz a Dança da Mangaba, o Bumba-Boi, o Tambor-de-Mina e o Tambor-de-Crioula. No seu artesanato o Babaçu é o maior destaque, seguido da Palha e da Taboca.
Em relação a sua culinária, é diversificada com o arroz predominando, acompanhado de carne de boi, porco, caça, galinha, com dois marcantes pratos que o capão ao molho pardo e a galinha de parida. A Esperança de Vida dos dom-pedrenses, de acordo com o IPEA e a Fundação João Pinheiro é de 61,46 anos. Seguindo estas mesmas fontes, conforme o estudo do Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios Brasileiros: a Taxa de alfabetização de adultos = 69,38%; Taxa bruta de freqüência escolar = 74,81%; Renda per capita = R$ 126,85; Índice de desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M = 0,634. Esta classificação implica que a cidade de Dom Pedro é o 25º em relação aos 217 municípios maranhenses e o 4052º em comparação com os 5.561 municípios brasileiros.

O seu povo é acolhedor, hospitaleiro, tornando-se o homem dom-pedrense o maior atrativo turístico-cultural da sua cidade, aonde mora a paz e as raízes tradicionais da pacata cidadezinha da Zona Rural maranhense, onde ainda se cultiva o leite mugido, o beiju e um café torrado no caldeirão e socado num pilão caseiro. Coisas de Dom Pedro, uma das belas caras do Brasil-Maranhão!

Data de Publicação: 3 de dezembro de 2004. Jornal Pequeno - São Luis - MA
TEXTO: José Ribamar Sousa dos Reis *Membro do IHG

INICIO DO RESUMO - VEJAM OS CAPÍTULOS




Monografia apresentada ao curso de História da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA para obtenção do grau de Licenciatura Plena em História.


AUTOR: GINIOMAR FERREIRA ALMEIDA

A “REVOLUÇÃO DA MATTA”: SOCIALISMO E FUZILAMENTOS NO INTERIOR DO MARANHÃO – 1921.



RESUMO


A “Revolução da Matta”, como os jornais a chamaram, foi uma ameaça de revolta liderada por um lavrador chamado Manoel Bernardino de Oliveira que, preocupado em defender o povo pobre do interior, consegue a ira de inimigos importantes e sendo socialista, espírita e fazendo campanha política para a oposição vira alvo de uma série de boatos que termina com o envio de tropas para o interior do Maranhão e o fuzilamento, oficial, de quatro pessoas e extra-oficial de mais de cem indivíduos.

INTRODUÇÃO



O presente trabalho visa desvelar a “Revolução da Matta”, acontecimento que agitou o Maranhão no segundo semestre de 1921, com reflexo em nível nacional causando sérios problemas ao situacionismo liderado pelo Governador (Presidente do Estado) do Maranhão Urbano Santos, e seu líder Manoel Bernardino de Oliveira, socialista , espírita e oposicionista.
Para essa empreitada contamos com fontes orais e escritas. As orais foram colhidas com o auxílio metodológico do livro “História Oral: a experiência do CPDOC” e constam de entrevistas gravadas e conversas “informais” junto às populações de Dom Pedro (antiga Mata do Nascimento), Presidente Dutra (antigo Curador), Mata Velha (antiga Matta), Centro dos Bernardinos (povoado pertencente a Dom Pedro) e São Luís. O objetivo da investigação oral foi verificar, in loco, a imagem da “Revolta” e de seu líder na memória das populações nas regiões atingidas pelo “conflito”.
As fontes escritas, ligadas diretamente ao tema, tiveram como base o “Diário Oficial do Estado do Maranhão”, os jornais a “Pacotilha” e o “Diário de São Luís”, a novela de Pedro Braga “Batevento” (escrita em homenagem a Manoel Bernardino mesclando realidade e ficção em forma de romance e com nomes fictícios), a monografia de Fernando Pagliarini, Manoel Bernardino: o Lenine da Matta, em que o autor traça um perfil biográfico do personagem e sua entrada na Coluna Prestes e documentos encontrados na casa do Sr. Leônidas Gomes de Sousa, em Dom Pedro.

POLÍTICA BRASILEIRA

Coronelismo

Termo que designa, no Brasil, o tipo social do grande proprietário rural de comportamento despótico e patriarcal que, por força do consenso geral de um sistema de obrigações e favores, confunde em sua pessoa atribuições de caráter privado e público. O "coronel" protege e sustenta economicamente seus agregados, exigindo deles obediência e fidelidade à sua chefia política.



A política brasileira na Primeira República é comandada pelos Estados de São Paulo (ligado à agroexportação do café) e de Minas Gerais (maior eleitorado brasileiro) em um revezamento de Presidentes da República na chamada Política do “Café-com-leite”.
Em nível local, principalmente nas áreas rurais, o comando pertence ao Coronel, líder político e militar que consegue a eleição dos seus candidatos pelos laços de clientelismo, pela coerção e pelas fraudes.
No Maranhão, o chefe político é Benedito Leite, do Partido Republicano, eleito governador de 1906 a 1910, enfrentando a oposição de Costa Rodrigues do Partido Republicano Federal. Com a morte do governador em 1909 “o partido situacionista cindiu-se em duas facções, entre Urbano Santos e José Eusébio”. Nesta disputa venceu Urbano Santos que comandou a política maranhense até sua morte em 1922.

CLASSE MÉDIA, SOCIALISMO, ANARQUISMO, GREVES


As classes dominantes tinham temor, com relação a qualquer tipo de mudança que viesse a prejudicar seus interesses.
Nesse período cresceu a classe média nos grandes centros (insignificante no Maranhão) e o movimento operário ganhou força, influenciado pelas idéias socialistas e anarquistas. No final do século XIX e início do século XX foram fundados vários jornais e revistas propagando teorias sociais . o Anarquismo no Brasil tornou-se mais forte do que o Socialismo.
No Primeiro Congresso Socialista Brasileiro, realizado no Rio de Janeiro em 1892, foi aprovado a organização do Partido Socialista Brasileiro. Este, porém, desapareceria em pouco tempo.
Com o final da Primeira Guerra Mundial, “acentua-se a influência marxista, precipitada a seguir pelo reflexo da Revolução Soviética”. Os relatos dos acontecimentos na Rússia chegavam a imprensa brasileira por meios de telegramas. Comunicavam que o fracasso do movimento bolchevista (leninista) é uma questão de dias. A imprensa burguesa apresentava “as notícias caluniosamente distorcendo os fatos”. Contra essas distorções, periódicos e panfletos operários reagiam de forma contundente.

CAFÉ COM LEITE


Em 1921 é lançado como sucessor de Epitácio Pessoa o mineiro Artur Bernardes, no “enfadonho” acordo do Café com Leite, para vice é escolhido o governador do Maranhão Urbano Santos, que já fora vice de Venceslau Brás (1914-1918) e ministro da justiça de Delfim Moreira.
O Rio Grande do Sul, se nega a apoiar o candidato situacionista afirmando não concordar com a forma da escolha (Café com Leite).
A “Reação Republicana”, movimento de oposição que vai reunir os militares descontentes, as oligarquias dissidentes, as camadas urbanas e todos os grupos de oposição no Brasil.
O episódio das “Cartas Falsas” garante a adesão das forças armadas à Reação Republicana.
Embora as altas patentes apoiassem à “alta política”, os jovens oficiais principalmente os Tenentes pregavam abertamente a moralização e reforma política e eleitoral, com voto secreto, independência das magistraturas. Mas, apesar destas reivindicações, o movimento não apresentava uma base ideológica homogênea defendida Por toda a jovem oficialidade.
Conforme Raimundo Faoro “os Tenentes, até 1930, quando Luis Carlos Prestes adere ao Credo Vermelho, não manifestam simpatias pelo movimento”.
Assegurar completa liberdade de pensamento, permitindo a mais ampla propaganda de idéias sociais e comunistas, bem como a organização de sociedades e partidos operários sem a indébita e vexatória intervenção policial”, vemos aí o socialismo ou comunismo como uma das bandeiras defendidas, pelo menos pelos oficiais da Coluna Prestes.

A REAÇÃO MARANHENSE



Por estas paragens foi grande a surpresa ao ver que na indicação dos candidatos do Partido Republicano, para as eleições de fevereiro de 1921, não constava o nome do ex-governador e Deputado federal Herculano Parga, em seu lugar foi colocado o Capitão-Tenente da Marinha, e genro de Urbano Santos, José Maria Magalhães de Almeida. “Herculano teve que articular sua candidatura fora da chapa recomendada pelo diretório do Partido Republicano”.
Foi assim que um grupo de cinco pessoas (entre elas o pai de Herculano o Sr. Inácio do Largo Parga e Tarquínio Lopes Filho) lança a candidatura de Herculano, sendo por isso chamados de herculanistas, e forma o primeiro núcleo de oposição, futuro Partido Republicano Maranhense –PRM ou Flor da Viração.
Como era esperado, Herculano não se elegeu mas o PRM foi conquistando adeptos por todo o estado e formando núcleos oposicionistas no interior do Maranhão.
Esse crescimento começa a assustar o situacionismo que passa a olhar com maior cuidado para o interior onde sua vantagem política (coronelismo, fraudes etc.) não poderia ser ameaçada.
A “Reação Republicana” vem dar novo sustentáculo à oposição maranhense pois agora há uma oposição em nível federal e se opor a Artur Bernardes é se opor a seu vice Urbano Santos. A articulação com a oposição federal é feita por Herculano Parga que, para as eleições de primeiro de setembro de 1921 não se candidata a nenhum cargo e cuida em fazer a “ponte” entre a “Reação” e o PRM.
Para complicar ainda mais a vida de Urbano chegou, no dia 29 de julho de1921, um telegrama da cidade de Barra do Corda dando notícia de um levante armado no local Matta, distrito de Codó, sob comando de um socialista e espírita chamado Manoel Bernardino de Oliveira ligado aos oposicionistas Deoclides Mourão, em Codó, e Euclydes Maranhão, em Barra do Corda. O Governo desloca tropas para sufocar a sedição e estas tropas cometem diversos fuzilamentos, saques e atrocidades “indizíveis” sob o comando do segundo Tenente Henrique Dias.
Estes fuzilamentos dão “munição” à oposição para “metralhar” Urbano Santos que recebe as alcunhas de O Fuzilador, Urbano Matta, Urbano da Matta ou simplesmente Sr. Matta. Segundo o Diário de São Luís, já se comenta nos meios políticos de São Paulo a substituição de Urbano da candidatura à Vice-Presidência devido à repercussão dos fuzilamentos em nível nacional.
Apesar da forte oposição, nas eleições de primeiro de março de 1922 Artur Bernardes consegue 1.575.735 votos contra 708.247 de Nilo Peçanha e o “Café-com-leite” prova mais uma vez sua invencibilidade nas urnas.
As forças armadas se articulam para impedir a posse de Bernardes promovendo levantes em Pernambuco que ocasionam a prisão de Hermes da Fonseca (02/07/1922), o fechamento do Clube Militar (03/07/1922), a Revolta do Forte de Copacabana(05/07/1922) e a Coluna Prestes.
No Maranhão um golpe liderado por políticos do PRM depõe o Presidente do Estado Raul Machado e instala um governo provisório com Tarquínio Lopes Filho na Presidência do Estado; Deposto pelo exército, sob ordem do governo federal, no mesmo dia.

UM CAMPONÊS REVOLUCIONÁRIO


O líder da revolta no interior do Maranhão em 1921, que tanto preocupou Urbano Santos, era Manoel Bernardino de Oliveira, um camponês nascido no Piauí em 1892 que fugindo da seca vem procurar abrigo no Maranhão em 1900 passando por Codó e indo fixar-se no Engeitado, termo de Mirador, onde viviam vários parentes seus. Casa-se no ano seguinte e traz sua família (dez pessoas) do Ceará em 1902.
De 1903 a 1912, dedica-se ao extrativismo no Estado do Pará, com visitas periódicas ao Engeitado e Mirador, chegando a trabalhar como lavrador “alugado” (em 1906) e a ganhar, posteriormente, cinco contos de réis.
Em 1912, Bernardino voltou ao Maranhão descendo o rio Tocantins até Belém e de lá para São Luís e daí para Mirador.

INIMIGOS PODEROSOS



Nesse mesmo ano (1921) um abastado habitante de Mirador, chamado Olympio Souza, ameaça de espancamento uma senhora de nome Anna, parenta de Manoel Bernardino, que veio até sua casa pedir-lhe socorro, ao que Bernardino resolveu interceder e conversar com Olympio mas, este afirma que “nem ele [Bernardino] nem outro qualquer ali era capaz de intervir nos seus atos” ao que Manoel Bernardino respondeu “que se precisasse de companheiros para as armas, tê-los-ia”, retirando-se em seguida convida, para essa “empreitada”, seus amigos, parentes e os pais de moças prostituídas por Olympio, que era dado a defloramentos de moças da região.
Embora Bernardino “não confiasse na Polícia de Mirador”, na tentativa de evitar o confronto, foi à Justiça com cinco companheiros pedir o prosseguimento do processo contra Olympio por balear um rapaz e pelos defloramentos ao que responderam-lhe não adiantar pois o ferimento fora leve e quanto aos defloramentos nenhum processo existia contra ele.
Assim, Bernardino comprou dois rifles e dez caixas de balas mandando buscar mais quarenta caixas em Picos, onde Olympio se encontrava com o mesmo fim. O conflito era iminente.
Os boatos chegaram ao juiz municipal que marcou uma audiência e, pela pressão dos habitantes do “Engeitado” e de Mirador, deliberou que Olympio se retirasse do município e este mudou-se para Grajaú.
Em 1915 Bernardino mudou-se para Palma, distrito de Curador (atual Presidente Dutra), município de Barra do Corda. A escassez de água fê-lo abrir uma estrada, de mais ou menos cinco quilômetros, do lugar Escondido para a Matta, onde fixou residência, em 1916. Segundo Pedro Braga, esta estrada rendeu-lhe ameaças por parte de um fazendeiro que se sentiu prejudicado pois a estrada antiga passava em frente à sua fazenda.
Como Bernardino dedicara-se à abertura da estrada, em 1917 perde o período de plantio e dedica-se ao ensino gratuito, em sua residência visto não haver escolas, às crianças do povoado.
A partir desse ano dedica-se à lavoura (principalmente do algodão).
A esse tempo aparece ali o Sr. Raimundo Arruda, fazendeiro, pecuarista, influente em Codó e em outros municípios onde possuía fazendas, e que havia prostituído duas meninas: Antonia e Margarida ambas com quatorze anos de idade. Sabendo da intenção de um parente de Antonia de casar-se com ela, Arruda armou homens e disparou uma fuzilaria de rifles no povoado com a finalidade de aterrorizar o pretendente e este corre à casa de Bernardino pedindo-lhe armas, que lhe são negadas, e Bernardino fica sabendo que Arruda incendiaria a casa de Domingas, mãe de Antonia.
Bernardino reprova publicamente Arruda e diz não temê-lo, mesmo sabendo da chacina que este fizera em 1913 na aldeia Chinela em Barra do Corda.

Sabendo das notícias, um padrinho e cunhado da adolescente, chamado José Bezerra, foi à Matta buscá-la e tendo sido avisado que Arruda o impediria foi aconselhar-se com Bernardino mas, em meio à confusão, Antonia resolve ficar.
Para solucionar os conflitos na região, onde o Estado só está presente na cobrança de impostos na pessoa do coletor José Lopes Pedra Sobrinho (José Pedra), Bernardino criou a “Liga de Defesa”, contingente de cem “homens de honra” armados. A Liga agia “contra desmandos, truculência, desatinos, os roubos, as fraudes, até questões sexológicas, como desvirginamentos”, ou seja, exercia a justiça em uma terra sem lei. Um conflito entre José Pedra e Felippe Moreira, pela vinda do padre Miguel de Codó, foi resolvido pela Liga.
Em outubro de 1920, Raimundo Arruda volta a armar homens para “tirar a existência” de Manoel Bernardino, este sai em busca dos homens da Liga reunindo, em dois dias, setenta homens armados a rifles e espingardas.
Não conseguindo o contingente esperado, Arruda vai ao Codó pedir ajuda às autoridades, ou seja, mobilizar força policial contra Bernardino já que era influente no lugar. Em três dias chega uma intimação para Bernardino e este comparece acompanhado das meninas prostituídas, dos pais das adolescentes, de testemunhas e de seis homens armados.
A esta altura, Codó estava alarmada pois José Pedra espalhara que Bernardino e setenta arruaceiros invadiriam a cidade. O Delegado Carlos Bayma já havia preparado um telegrama pedindo forças ao Governo, não tendo sido enviado por protestos da Câmara Municipal.
Na audiência foi firmado um acordo dizendo que:

Se apesar de Harmonizados, como iam houvesse depois alguma divergência, deveriam [...] se entender com o inspetor de quarteirão [...] [ou] se deviam dirigir ao Delegado de polícia do Codó. [...] Quanto aos defloramentos [...] nada mais podia fazer, por haver decorrido o prazo legal. E aí por diante nenhuma desinteligência houve entre o declarante [Manoel Bernardino] e o Sr. Arruda.

Sobre este caso, Felinto Ribeiro, em seu conto intitulado “Arruda é remédio de mulher”,demonstra outra versão do acordo. Segundo o Contista, Arruda resolveu o problema dando 500 mil Réis ao Delegado que usou parte para subornar os pais das vítimas para tirarem a acusação contra Arruda e virando-se para Bernardino falou:
-Se os pais das possíveis vítimas não denunciaram o Raimundo, o que tens tu com isso, já que não és parte nenhuma delas? Se tu não tens virilidade Bernardino, larga a vida de Arruda e fica sabendo que arruda é remédio de mulher!

Um outro grande desafeto de Manoel Bernardino era o Subdelegado de polícia do Curador, distrito de Barra do Corda, Sebastião Gomes de Golveia que “era um absoluto, era o juiz, o Delegado, o promotor, o prefeito, o advogado, ele era tudo, era um soberano de muita decisão”, para Manoel Bernardino ele
assumiu para a gente da Matta [...] as proporções de um déspota [...]. Há tempos, entende de mandar na zona da Matta, do município de Codó, e assim é que envia esbirros afim de intimarem os habitantes da Matta a virem em sua presença por isto ou aquilo. Manoel Bernardino aconselhou, várias vezes, não comparecessem, que a jurisdição do homem não se estendia por lá.

Uma personalidade autoritária como parece ter sido Sebastião Gomes não admitiria tamanha insolência e ameaçava constantemente invadir a Matta para prender Bernardino e este só deu crédito às ameaças quando seu amigo Felippe Moreira, após voltar do Curador, o avisou da ameaça. Então ele armou quatorze homens para a sua defesa, isto em meados de julho de 1921.
Foi também nesse período que a crise entre Bernardino e o coletor de impostos do Estado, Sr. José Lopes Pedra Sobrinho (José Pedra ou Zeca Pedra), se intensificou. José Pedra “tem vexado o povo, exigindo impostos, sem se compadecer até dos aleijados”, além disto, ele, que se tornou um grande fazendeiro, solta seus animais nas roças dos lavradores pobres, autoriza seus amigos a criarem porcos soltos, danificando o açude de uso comum, prejudica tanto a população que “o povo da Matta o odeia a tal ponto que, se não fora [Bernardino],[...] já lhe teriam tirado a vida”.
Conforme Bernardino, foi no intuito de salvá-lo que ele foi “convidado” a se retirar da Matta em fins de julho de 1921 e também se o matassem a culpa cairia sobre Bernardino. Lopes Pedra cobrava os tributos de acordo com sua vontade encontrando em Bernardino grande oposição que culminou na sua expulsão do povoado.
Esse é o quadro das relações de Manoel Bernardino de Oliveira, admirado e respeitado pelo povo, que a ele recorre para aconselhar-se ou solucionar problemas; odiado por fazendeiros, cobradores de impostos, Delegados e todo tipo de arbitrariedade tão comum no Maranhão e no Brasil do começo do século XX (e por que não dizer atualmente?). Inimigos importantes que aguardam e articulam o melhor momento para atacar.
Quando o coletor é expulso da Matta (final de julho) dirige-se para Curador e se organiza com Sebastião Gomes que já armara homens para atacar a Matta.

SOCIALISTA E ESPÍRITA



Em sua campanha política Bernardino prega o Socialismo e o Espiritismo duas doutrinas que se fundem em sua cabeça. Segundo ele suas influências são o poeta português Guerra Junqueiro em seu livro “Pátria”, Tolstoi em sua obra “Amor e Liberdade”, Leon Denis em seu livro “Joana D’Arc, médium”, revistas como o Reformador e vários jornais da capital e do país. Nas entrevistas realizadas em Dom Pedro (antiga Matta do Nascimento) foi relatado que Bernardino tinha uma grande biblioteca, para a época, e seu sobrinho, Eurípedes Bernardino Bezerra, nos relatou que Bernardino participava de um grupo chamado “Comunhão Esotérica do Pensamento” que lhe enviava jornais, entre eles “o Clarin”, não conseguimos nenhum dado sobre esta comunidade e ela também não é citada no livro “O Espiritismo no Maranhão” de Waldemiro E. dos Reis. Outra hipótese nos foi relatada por Felinto Ribeiro, ratificada por Eurípedes, de que ele recebia estes livros e revistas de Deoclides Mourão, embora este não fosse nem espírita nem socialista.

O ESPÍRITA


Atual Centro Espírita Jesus de Nazará em Dom Pedro Maranhão.


O Espiritismo no Maranhão desenvolve-se desde o início do século XX .

Já em 1925 foi criado o Centro Espírita Maranhense com o intuito de organizar a doutrina e o estudo do espiritismo Kardecista no Maranhão.
A divulgação do espiritismo era feita através de diversos jornais, em geral de pouca duração, como: “Alma e Coração, O Farol, O Semeador, Maranhão Espírita, A Luz, que se tornou revista, A Campanha [...]”. Possivelmente M. Bernardino era leitor de alguns desses jornais devido à grande quantidade de literatura espírita que tinha em sua casa e com amigos.

Mas qual era o espiritismo pregado por Bernardino? Em que ele acreditava? Ele mesmo respondeu dizendo que:


Crê que o homem tem uma alma imortal, responsável por todos os seus atos e pensamentos; crê na pluralidade de mundos habitados, nas vidas sucessivas, nas penas e recompensas, conforme o mérito ou desmérito de cada um. Tem horror ao homicídio, que só em sua legítima defesa e de amigos poderá cometer.

Esse trecho do seu depoimento deixa claro que ele não é “ingênuo” ao falar de espiritismo, fala como quem conhece realmente a doutrina de Alan Kardec.


Essa convicção religiosa dá-lhe mais segurança na luta contra o “mal” (a opressão, a miséria, os desmandos) pois, combatendo por uma boa causa, se for morto, será recompensado com um novo corpo em um meio mais evoluído. Mesmo assim, como vimos (nas ameaças de conflitos), esta segurança não o impede de se armar para proteger sua vida e de outros.
Ao ser perguntado sobre o temor de morrer e sacrificar a vida de seus amigos ele cita um trecho do Bhagvad Gita contido no livro “Joana D’Arc, médium”, de Leon Denis que ensina a agir com coragem diante do campo de batalha: “[...] Não sabes que o espírito não morre? Quando se não faz combate ao mal com temor de perder a vida humana fica-se espiritualmente desonrado para sempre. [...] se te matares ganharás o céu; se venceres, ganharás a terra”. E na edição atual, completamos “[...] não tendo nascido, como poderia morrer? [...] olha de frente o dever que te corre”.
O espiritismo lhe confere uma virtude indiscutível e admirada por todos que o conhecem: A CORAGEM. Coragem de desafiar os poderosos, os valentões, os fortes e todos aqueles que para ele representam algum “mal”. Fisicamente não se poderia imaginar tanto destemor pois Manoel Bernardino era “pequeno”, franzino, um metro e sessenta de altura, aproximadamente, “teria escolhido seu corpo? Visto assim tem a dimensão de uma criança” e talvez isto despertasse ainda mais a admiração de muitos e a ira de poucos.
Sendo assim, sente uma grande necessidade de lutar contra a situação material de miséria em que vê o povo e acredita que a melhor forma é pregando o socialismo, o espiritismo e a eleição de políticos preocupados com o povo.

O SOCIALISTA


Quando indagado sobre em que consiste o socialismo, Bernardino responde: “Consiste em que nenhum capital fique parado posto a produzir, dando ganho ao operário e produzindo o necessário para matar a necessidade do povo; abolir o álcool e difundir a instrução e manter a obrigatoriedade do trabalho”.
Em uma carta de Bernardino ao seu tio, Antonio Fialho de Brito, apreendida em Mirador, dá-nos mais dados sobre o seu socialismo, espiritismo e intelectualidade, carta esta em que ele explica em seu depoimento, seguem alguns trechos:

Comunico que estou pregando a doutrina amada – o socialismo.
Como julgamos coisa inadiável, fui prega-la no Codó, para evitar fuxicos. (Foi de fato, no Codó, e ali em conversa, falou a alguns camaradas no socialismo, isto na porta do bazar do Sr. Henrique Figueiredo para evitar histórias mentirosas, pois queria falar ali, no socialismo, do mesmo modo porque falava na Matta e, se nisto houvesse crime, seria intimado e citaria os livros, onde bebia a doutrina).
Se isto faço é porque todos os dias me chegam aos ouvidos que grupos de precisados pretendem atacar e eu congrego todos par debaixo de uma só bandeira com o fim [...] não só de evitar tantos sangues e execuções bárbaras, como porque não devemos perder ocasião de impormos um governo do povo pelo povo, como se está fazendo no Rio e Rio Grande do Sul ([...] conforme leu, que o povo não aceita a convenção para a presidência da República, porém a maioria nas urnas). [Vemos a demonstração de conhecimento da política nacional, mesmo acreditando, erradamente, que a Reação Republicana pretendia a verdadeira democracia].
Além de muitas obras socialistas que estão em meu poder, chamo atenção para o artigo “Do mestre para o discípulo” – Reformador de 16 de junho próximo passado e veja que o espírita, mais do que ninguém, tem a restrita obrigação de oferecer o sangue em defesa de seus pobres irmãos oprimidos pelos grandes da terra; não como fez Cristo, porque muito orgulho é querer imita-lo. O novo papel é combater o mal por qualquer meio que estiver ao nosso alcance, até mesmo com o batismo de sangue. [...] [Aqui ele explica a luta em defesa dos pobres encontra a intervenção da força policial no pleito eleitoral].
O nosso infeliz governo vendeu o nosso torrão natal em proveito dos que não trabalham e dos estrangeiros egoístas. [...] [Demonstra conhecimento da desvalorização do câmbio em favor das exportações].
Está em nossas mãos sacudir tão monstruoso parasita que se alimenta do nosso sangue!
Rui Barbosa já está unido ao exército ([...]).
Fiquei surpreendido de em sua última carta não fazer você a menor alusão ao movimento socialista que a muito doutrinamos para levantar as baixas camadas [...].
Discutiu-se no Rio ser este o único meio de salvar o Brasil [...] e os governos são impotentes para reprimir as ondas de miseráveis que eles autocratas criaram! Nesta hora, para que chegue a vez do que é justo, o proletariado se levanta. ([...]).
Você não ignora que Jesus Cristo foi o primeiro socialista [...] somos os instrumentos de que a Providência se serve para o cumprimento de suas leis [...].

Os trechos da carta acima demonstram o vasto conhecimento que Manoel Bernardino possui (diferente da definição de “caboclo inculto” dada por João Batista Machado ou de um homem trabalhador “a despeito de sua limitada cultura”) e que ele pregava a divisão de bens, investimentos para gerarem empregos e renda a fim de diminuir a miséria e, principalmente, um regime político democrático que realmente representasse o povo.
Dos jornais vê-se informações sobre a política nacional mas, é curioso ele em nenhum momento (cartas, depoimento, entrevistas) mencione a Revolução Russa de 1917. Da Rússia apenas a influência de Tolstoi é percebida quando ele diz sermos instrumentos da Providência para o cumprimento das leis e, em outros fragmentos, quando ele prega a não violência.
Nas críticas agudas de Guerra Junqueiro contra a sociedade portuguesa podemos notar concordâncias com Manoel Bernardino nos trechos:
Um povo imbecilizado [...] agüentando pauladas [...] sem uma rebelião [...].
Um Clero [...] desmoralizado [...] liberal e ateu [...].
Uma burguesia [...] corrupta até a medula [...].
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo [...].
A justiça ao arbítrio da política [...].
[...] contudo, a maré do socialismo invade, formidável os parlamentos europeus [...].

Manoel Bernardino prepara o povo para a “revolução” porque, como Junqueiro, acredita que [...] só fica uma nuvem negra: os campos, a plebe da enxada. [...] Na alucinação da miséria quem há de conter? [...] O perigo vem daí. Meio milhão de esfarrapados com este general – a fome, tornam-se invencíveis [...].
É com essa crença que Bernardino conclama o povo à revolução como meio de sair da miséria em que se encontra. Mas esta revolução ocorrerá por meio do voto instaurando um governo comprometido com o povo. Neste ponto, Bernardino estava iludido pois os candidatos do PRM e da Reação Republicana não visavam mudanças profundas na estrutura econômica do Maranhão e do Brasil respectivamente, da forma como ele acreditava. Talvez ele não compreendesse a verdadeira luta oligárquica e visse as dissidências como revolucionárias enquanto, na verdade, não eram. Os grupos em disputa pelo poder (nacional ou local) não visavam distribuição de renda ou mudanças que viessem alterar a estrutura de poder desfrutada pela elite, era mais uma reorganização política do que uma revolução como Bernardino acreditava.
Ao saber dos preparativos para a “revolução” de Bernardino, um grupo de comerciantes de Curador segue para Matta. No caminho o Sr. Raimundo Freitas aconselha o povo a não dar ouvidos a Manoel Bernardino pois este era um revolucionário. “Ser revolucionário era uma atitude que desqualificava socialmente”. Ao chegarem ao destino vão direto à casa do “revolucionário” onde são recebidos friamente. Raimundo Freitas lhe diz que eles vieram saber dessa revolução pois o pessoal está assombrado e diz:
Eu já tenho aconselhado, pelos caminhos, a muita gente, que não se deixe levar pela sua cabeça pois o Sr. é um revolucionário.
Ao que Manoel Bernardino responde:
- Prezo-me de ser um revolucionário [...] e o Sr. com isto não me agrava. O Sr. tem razão em procurar a calma, mas não pode encontrar pois o derramamento de sangue é inevitável. Nós temos que vingar o sangue de Jesus Cristo. [...]
- Esta roupas estão boas, mas este senhor (apontava o declarante [José Lopes Pedra Sobrinho que os acompanhava] que trajava casimira) não está direito, pois está no luxo e nós devemos ser todos iguais.


Diz ainda ter em seu poder mil homens e que conseguiria dois mil facilmente. Os comerciantes voltam convencidos das idéias bolchevistas e maximalistas do revolucionário camponês.
Mais uma vez estava posta a idéia do socialismo. Essa conversa agravou ainda mais as tensões na região pois, para os comerciantes, ficou clara a “lei comum” pregada na Matta. Dez dias depois José Pedra foi expulso do povoado.
Para ter certeza dos boatos e a forma de agir, se houver coerção da força policial no dia das eleições, Bernardino foi a Codó falar com o Desembargador Deoclides Mourão, não o encontrando, pois o mesmo viajara, voltou à Matta e escreveu ao Major Euclydes Maranhão em Barra do Corda no dia 26 de julho de 1921:
Comunico-vos que tendo recebido instruções do Rio relativamente ao direito que temos de fazer a revolução contra governos ilegitimamente constituídos e vendo a aproximação da hora resolvi fazer agentes por todo este município e de Mirador [...] e como as instruções que recebi diz que nosso inimigo só ficará convencido depois do batismo de sangue, é preciso não agirmos em traição porém que devemos pregar abertamente pois o tempo chegou. [...] espero notícias do Desembargador [Mourão]. Fico aguardando suas ordens [...].

Essa carta é enviada por um boiadeiro que passava pela Matta com direção a Barra do Corda e, ao passar em Curador, é interceptado e interrogado por Sebastião Gomes e José Pedra que perguntam como está a Matta e Manoel Bernardino ao que ele responde está em paz e Bernardino trabalhando na lavoura, tudo tão normal que ele levava uma carta de Bernardino a Euclides Maranhão (essa ingenuidade foi o grande erro) assim, a carta lhe é tomada e Sebastião Gomes fica alarmado com o trecho sobre o “batismo de sangue” seguindo para falar com o juiz municipal e governista Walfredo Lira em Barra do Corda.
O juiz envia ao Governo do Estado o seguinte telegrama:
Barra do Corda, 29. Acontecimentos gravíssimos estão assumindo proporções que se impõe dever tudo esclarecer v. exc. No centro Codó lugar Matta [...] reside Manoel Bernardino de Oliveira, inteligente grande propagandista idéias socialistas [...] alicia adeptos numerosos [...] ultimamente prega derramamento de sangue dizendo que é tempo derribar governo montar outro acordo populares. [...] age de acordo com Euclydes Maranhão, Desembargador Mourão, Henrique Figueiredo com o fim depor v. exc. [...] consta ter cerca mil homens preparados para luta dia eleição. [...] peço medidas urgentíssimas [...].

No mesmo dia foram enviados mais três telegramas ao governo, um outro de Walfredo Lira transcrevendo trechos da carta de Manoel Bernardino a Euclydes Maranhão e mais dois de comerciantes ratificando as denúncias.
Sabendo das notícias, Euclydes Maranhão comunica-se, no dia seguinte, com o governo solicitando abertura de inquérito para verificar a verdade pois sua “honra de cidadão” não pode ser comprometida.
O Presidente do Estado Sr. Urbano Santos que já sentia sua força política ameaçada em uma região sob influência dos seus opositores, mobiliza tropas para sufocar a “revolução”, o que desperta a crença, na oposição, de que esta força é, apenas, para intimidar os oposicionistas.

O MASSACRE: A MOBILIZAÇÃO DAS TROPAS


Diante das notícias de revolta no interior do Estado, contando com até mil homens armados dispostos a invadir Codó no dia das eleições (01/09/1921), o Presidente do Estado, Dr. Urbano Santos, comunica-se com o Subdelegado de Curador, Sebastião Gomes, autorizando-o a armar paisanos e agir contra Manoel Bernardino não apenas onde exerce sua jurisdição (Curador, distrito de Barra do Corda) mas em qualquer lugar onde se refugiem os “desordeiros”. Essa ordem visa impedir a fuga de Bernardino para o sertão e para facilitar a prisão, o governo envia cinco contos de Réis ao Subdelegado que envia homens aos povoados Cruzeiro, Pão-de-Ouro, Carrasco e outros cercando a Matta à espera das tropas do governo.
De São Luís seguem, com destino à Matta passando por Codó, os Segundo-Tenentes Taurino Lobão Lemos e Antonio Henrique Dias com quarenta e duas praças. Para proteger Codó de uma possível invasão de quarenta homens de Bernardino, denunciada por moradores, é enviado o Comandante interino do Corpo Militar, Major Augusto de Faria Bello à frente de trinta soldados. Contra uma possível fuga de Bernardino para Mirador o coronel Aristides de Lobão, que se encontrava nesta localidade, é autorizado a prendê-lo e para auxilia-lo é deslocado de Benedito Leite o Capitão Ulisses Marques com mais vinte e oito soldados totalizando mais de cem homens.
Sebastião Gomes armou de trezentos a quinhentos civis auxiliado por José Pedra, comerciantes e todos que queriam a desforra em Manoel Bernardino. Todos se preparam para a “guerra”.

POR QUE LEVARAM TROPAS PARA A MATTA ?

A respeito da causa do envio de forças à Matta é interessante notarmos que nas entrevistas e conversas informais realizadas em Dom Pedro (antiga Matta do Nascimento), Matta Velha (antiga Matta) e Presidente Dutra (antigo Curador) existe na memória popular duas causas:
a Primeira, menos popular e citada por pessoas mais eruditas, confunde a “Revolução da Matta” com a passagem da Coluna Prestes pelo Maranhão (1925), à qual Bernardino integrou com duzentos homens saqueando Curador. Para estas pessoas os fuzilamentos foram cometidos por tropas que combatiam a Coluna.
A Segunda, relatada por praticamente todos os interrogados, é a de que os moradores da Matta, liderados por Manoel Bernardino, foram várias vezes a Codó solicitar uma professora para lecionar às crianças do povoado e, não sendo atendidos, resolveram não pagar mais impostos e ir buscar a professora à força, ocasionando o pedido de auxílio militar ao governo estadual pelo prefeito de Codó e o envio do “famigerado” Tenente Dias.
Essa segunda versão é embasada na literatura a que o povo teve acesso como os cadernos distribuídos pela prefeitura de Dom Pedro onde, na contra-capa, tem essa explicação.
Com o intuito de corrigir “um equívoco na matéria publicada no jornal ‘O Estado do Maranhão’, referente à origem da revolta encabeçada por Manoel Bernardino”[...] o Sr. José Nilo Gomes escreve um texto intitulado “Complementação”, que acreditamos tê-lo escrito para enviar ao jornal e corrigir o “equívoco”. O documento não tem data e não sabemos qual a edição do jornal nem qual é o “equívoco” mas a “correção” feita por ele é explicar a origem da revolta a partir da “questão da professora” e da sonegação de impostos.
Em um documento apócrifo, aparentemente oficial, é feito um histórico da cidade de Dom Pedro e, novamente, a revolta tem como causa a reivindicação de escola.
João Batista Machado dá a mesma explicação de que Bernardino juntou os camponeses e “Levou-os à presença do prefeito [de Codó], par reivindicar melhores condições de vida, principalmente escolas, para as crianças do povoado”.
Quanto à questão dos impostos é claro, nos documentos oficiais e jornais da época, o conflito entre Bernardino e José Pedra culminando na expulsão deste do povoado. A grande diferença no que diz as fontes (oficiais e jornalísticas na capital; oral e escrita no interior) é com respeito à “professora”. Manoel Bernardino em nenhum momento faz qualquer menção ao conflito pela professora, nem no depoimento (autobiográfico), nas cartas, entrevistas ou qualquer fonte.
Do mesmo modo são os outros envolvidos, ou seja, nas fontes da época, ninguém menciona este caso o que nos leva a concluir que ele foi posterior ao período estudado e, tal como ocorreu com a Coluna Prestes, houve uma confusão na memória popular ou este conflito foi “criado” pela população que, não compreendendo os reais motivos do conflito, deu-lhe uma razão nobre: A LUTA PELA EDUCAÇÃO.

A CAMINHO DA MATTA

Após a expulsão de José Lopes Pedra Sobrinho da Matta, Bernardino ouve notícias mais exatas de que Sebastião Gomes iria à Matta prendê-lo e para resistir ele arma quatorze homens. Embora as notícias sejam que Bernardino tenha cem, duzentos, quatrocentos ou até mil homens ele afirma, em depoimento e entrevistas, ter apenas quatorze, não para invadir Codó (que seria invadida com votos) mas para se defender de Sebastião Gomes. O próprio Bernardino com o intuito de intimidar seus desafetos pode ter dito possuir, sob seu comando, um número maior de homens do que na realidade tinha.
As tropas dos Tenentes Taurino e Dias desembarcam em Codó no dia trinta de julho. Seguindo no dia seguinte para a Matta o Tenente Taurino com trinta e duas praças e no dia primeiro segue o Tenente Dias com dez praças ficando em Codó o Major Bello com trinta praças.
A mais ou menos trinta e seis quilômetros as tropas se encontraram já tendo Taurino “prendido um cangaceiro que trazia uma carta de Manoel Bernardino de Oliveira para Manoel Marinho Falcão, dizendo a mesma que lhe mandasse balas, rifles, espoletas, pólvora e chumbo [...]”.
No dia 4 de agosto, no lugar São Joaquim, os Tenentes se encontraram com Felippe Moreira que acusa Manoel Bernardino de lhe matar o gado e de querer brigar com o governo, diz também que não adianta ir à Matta pois Bernardino fugira e a localidade estaria deserta. Esta ação de Felippe é um artifício (igual quando ele foi ao Curador e descobriu o plano de S. Gomes de atacar a Matta) para saber se havia tropas, quantos eram, retornar e avisar Bernardino, e é o que ele faz.
Consciente da impotência de lutar contra as tropas Manoel Bernardino vai ao Codó, cortando caminho para não se encontrar com as tropas, acompanhado de Felippe Moreira, João de tal, e Bartolomeu Francisco Gonçalves no dia 5 pela manhã chegando em Codó no dia 7 ao meio dia.

OS FUZILAMENTOS





(Fotos de Dom Pedro - MA)


No dia 5, ao meio dia, as tropas chegam à Matta “sem disparar um tiro”, visto não haver revolta, e começam as prisões e interrogatórios para descobrir o paradeiro de Bernardino e de seus “capangas”.
Às prisões seguem os fuzilamentos, sob ordens do Tenente Antonio Henrique Dias, dos “cangaçeiros” mais próximos de Bernardino.

No dia seguinte chegam Sebastião Gomes e seu pessoal, mais ou menos 200 homens e alguns “cangaceiros” presos, e José Pedra com mais 28 homens e alguns prisioneiros.

Segundo S. Gomes havia mais ou menos 50 prisioneiros para serem fuzilados não sendo pela intervenção sua, de José Pedra e do Tenente Taurino Lobão Lemos que convencem Dias a cessar a carnificina.

Os boatos se espalham e o Desembargador Deoclides Mourão manda um telegrama a Urbano Santos dando notícia de cem homens fuzilados, cadáveres boiando nos açudes e corpos servindo de pasto aos urubus, atrocidades indizíveis cometidas pelo Tenente Dias havendo discordância quanto ao número, não quanto ao autor.

Urbano contata o Dr. Walfredo Lira, opinião situacionista, que interroga Sebastião Gomes e confirma ao Presidente do Estado os fuzilamentos e a ação do Subdelegado para libertar outros condenados à morte.


Em depoimentos, inclusive de Maria Pereira Ramos, vulgo Maria Paca, é atribuído a Sebastião Gomes o mérito de ter salvado prisioneiros da morte mas, uma fonte oral na qual o entrevistado não autorizou sua identificação, diz ter ouvido do próprio Sebastião Gomes que a intervenção somente seria feita se os salvos se comprometessem a matar Bernardino quando este voltasse à Matta.
Diante das notícias bombásticas, que já chegaram aos jornais, Urbano Santos envia o Major Bello, que já estava em São Luís, voltar a Codó e proceder inquérito afim de verificar a “verdade”.


Bello investiga, interroga e chega à conclusão de que foram fuziladas quatro pessoas, na beira da estrada que leva à Codó, a mando do Tenente Antonio Henrique Dias.
Em depoimento, quando indagado sobre as acusações de fuzilamentos confirmadas pelo juiz e pelo Subdelegado, Dias nega ter ordenado qualquer fuzilamento ou maus-tratos aos prisioneiros e afirma ser inimigo de Sebastião Gomes e de Walfredo Lira desde 1919 quando era Delegado em Barra do Corda e um amigo de seus acusadores cometera um crime bárbaro de roubo e assassinatos e eles vieram pedir-lhe para tirar do processo o nome dele ao que Dias lhes disse que se quisessem livrá-lo que constituíssem um advogado.

Desde então tornaram-se inimigos e que, se na Matta fora cometido algum crime certamente foi por homens de Gomes que armados e bêbados atiravam a esmo.
Quem objetivamente denuncia os fuzilamentos são as praças pois o Tenente Taurino, “por espírito de coleguismo”, oculta os assassinatos do seu primeiro depoimento (sendo por essa omissão sentenciado a prisão disciplinar de quinze dias) e, embora fosse o Comandante da expedição, só tivera conhecimento do fato após a consumação visto que não tendo encontrado resistência na Matta foi à casa do seu amigo Antonio Pires e em sua ausência foram cometidos os crimes; já as praças admitem que Taurino sabia de tudo que estava acontecendo.


Há muitas contradições nos depoimentos de todos os militares quanto a um ataque que a força teria sofrido na noite do dia 5 de agosto: alguns dizem que os tiros foram respondidos pelo flanco esquerdo, outros o direito, outros por todos os flancos e outros que nem ataque houve.

Mas isto não explicaria os fuzilamentos pois os assassinados eram prisioneiros que foram levados à estrada que leva ao Codó, sob pretexto de serem levados presos àquela cidade, sem nenhuma possibilidade de reação.
Comprovado o crime, Dias é enviado a São Luís e preso no quartel da polícia militar onde é feito novo inquérito.

BERNARDINO SAI DA CLANDESTINIDADE

Manoel Bernardino, que fora ao Codó tendo lá chegado no dia 7 de agosto, mostra não haver sedição alguma e sim campanha política, pede uma audiência com o Dr. Urbano Santos e segue para São Luís no dia 12 do mesmo mês.
Na capital, Bernardino conferencia com Urbano e concede entrevista ao Diário de São Luís e à Pacotilha mostrando, aos jornais e ao povo, sua elevada cultura.
fotos de Dom Pedro - MA

Em Coda o Delegado Carlos Bayma faz inquérito e conclui que “Manoel Bernardino queria impedir eleições, saquear e roubar. Moradores pedem não deixar Manoel Bernardino voltar à Matta”. Os fatos desmentem, posteriormente, esta conclusão.
Ao Diário de São Luís Bernardino explica seus conflitos com Sebastião Gomes e José Lopes Pedra Sobrinho, sua campanha política, sua carta a Euclydes Maranhão e a conferência com Urbano Santos na qual o Presidente fica “convencido de que ele Manoel Bernardino era vítima das perseguições. Que quanto a ser socialista que ele Urbano Santos também o era e que a vitória do socialismo não estaria longe [...]”

Na Pacotilha a entrevista segue a mesma linha (desafetos, campanha política, boatos) e este periódico emite a seguinte opinião sobre Bernardino:
[...] longe de ser algum chefe de rebeldia, é um homem amigo da legalidade, apenas um pouco transviado por espiritismo, de mistura com vagas influências de leituras de algum livro socialista [...] é um homem de boa índole, lá com suas caraminholas socialistas e espíritas.
Embora faça elogios à personalidade de Bernardino, o jornal faz questão de ridicularizar as doutrinas das quais ele é adepto e ligá-lo aos políticos de Codó com no questionamento publicado no dia seguinte: “Será Manoel Bernardino uma simples vítima das leituras mal assimiladas de Tolstoi e Guerra Junqueiro e revistas de espiritismo ou um agente da politicagem que se oculta sob aquela capa?”
As tristes notícias se espalham pelo Brasil

Vejamos alguns telegramas:
Rio, 19 A “Noite” com títulos garrafais – morticínio de cem irmãos brasileiros fuzilados no Maranhão, mas no Brasil o sangue das vítimas clama justiça- [...]
Rio 20 A “Gazeta” a atitude do Sr. Urbano Santos, esforçando-se para apurar gravíssima denúncia [...] é digna do seu passado político e revela a sua envergadura de homem público.
Belo Horizonte, 21 A opinião pública está alarmada com a notícia de morticínio no Maranhão.

O Tenente Dias, preso no quartel, admite os fuzilamentos e entrega uma declaração a Nascimento de Morais, redator do Diário de São Luís, em que diz apenas cumprira ordens do Sr. Urbano Santos para que:


Chegando à Matta espingardeasse um grupo de cangaceiros que ali existia chefiados por Manoel Bernardino. Por mais de uma vez em seu palácio o Sr. Dr. Presidente recomendou [...] que espingardeasse todos os bandidos custasse o que custasse e que contasse [...] com todo o apoio do governo;
[...] e de fato a força espingardeou quatro cangaceiros porque eu e o Tenente Taurino recebemos ordens do exm° Sr. Dr.
Presidente do Estado para isso fazer.

Essa declaração acusa diretamente o Presidente do Estado pelos fuzilamentos por ter dado ordens explícitas de matar “todos”os revoltosos.
Isso acirra ainda mais a campanha para Presidente da República, pois o candidato a Vice-Presidente da chapa situacionista é acusado de um crime bárbaro que já tomara as páginas dos jornais mais importantes do país. A oposição ataca.

Os desdobramentos tomam tal proporção que o Senador, e sucessor de Urbano, Godofredo Viana usa a tribuna para defender Urbano Santos, afirmando que “dos sessenta e quatro municípios [do Maranhão] apenas em sete existe força militar [...] [quanto à Matta] houve excessos positivamente selvagens executados pela força policial [mas as cem vítimas] foi apenas uma multiplicação feita pela mente incendiada da paixão partidária” .


O Oficial ainda declara está sendo coagido a retirar o que dissera assumindo os fuzilamentos que o Presidente o protegeria mas, ao invés disto, ele continua afirmando ter cumprido ordens, isto o leva a ficar incomunicável no quartel .
As denúncias levam o próprio Urbano a conceder entrevista à Pacotilha na qual diz que:


eles já sabiam o que iam fazer na Matta [?] que agissem conforme as circunstâncias aconselhassem [...] [quanto a Deoclides Mourão teria dito que] uma comissão militar da natureza da que iam desempenhar, não se olhava a posição nem a classe dos indivíduos envolvidos na desordem. A força somente podia considerar que tinha diante de si duas ordens de pessoas – os homens pacíficos e os desordeiros [...]

Essa entrevista não desmente totalmente as acusações de Dias, até as ratificam em alguns pontos, complicando ainda mais a situação do Presidente do Estado.


Em princípio de setembro de 1921 o Major Bello termina o inquérito chegando à conclusão de que foram fuzilados quatro indivíduos a mando do Tenente Antonio Henrique Dias. Mas antes da chegada deste oficial à Matta, o Sr. José Pedra aterrorizou a população dizendo que o Major iria sangrar os que falassem em assassinato espalhando ainda que “Manoel Bernardino estava preso e condenado a trinta anos de prisão, e que não voltaria mais à Matta.”. Quando o Major foi ao povoado foi José Pedra quem o “guiou” pela região.
Portanto a conclusão do inquérito não pode ter nenhum crédito de veracidade dado a coerção que as pessoas da Matta foram submetidas antes e durante a visita do inquiridor.


Em meados de setembro surgiram denúncias de terem sido praticados muitos saques na Matta e encontradas quatorze ossadas humanas levando a um novo inquérito, este feito pelo Delegado Geral do Estado Sr. João da Costa Gomes que partiu para a Matta no dia vinte e seis de setembro acompanhado, entre outros, de mais um acusado, o Sr. Sebastião Gomes de Golveia.


O Diário de São Luís diz que no terminal ferroviário de São Luís, Bernardino estava presente e bradou contra Sebastião Gomes:


-
Ali está, meus senhores o principal responsável pelos crimes da Matta, ali está o homem perigoso que persegue os pobres os pequenos, e no entanto a lei os protege!

Vê-se que a coragem de Bernardino beira a insensatez, desafiar e ofender em público uma autoridade policial dada a todo tipo de arbitrariedade em uma região em que ele “é” a lei e para onde o próprio Bernardino regressará, parece quase um suicídio.

O juiz de direito de Tutoia, Sr. Francisco Moreira (filho de Felippe Moreira), concede uma entrevista ao Diário de São Luís que o pergunta, entre outras, se Manoel Bernardino é mal visto na Matta (como disse o Delegado de Codó na conclusão de seu inquérito) ao que o juiz responde:
- Absolutamente. A maioria dos habitantes, que me procuraram na Matta, fala bem de Manoel Bernardino e lá o aguarda ainda ansiosamente. Manoel Bernardino é um tipo curioso, homem de muita atividade e pronto sempre a amparar os infelizes e perseguidos [...].

Quando o Dr. Costa Gomes chega em Codó, antes de partir para a Matta, encontra detido o Sr. José Lopes Pedra Sobrinho acusado de ocultar os cadáveres e ser cúmplice nos fuzilamentos fornecendo uma lista dos “cangaceiros” de Bernardino ao tenente Dias. Diante destas acusações o Delegado geral manda soltá-lo sob alegação de que a lista era apenas uma suspeita, os cadáveres já terem sido vistos por muitos e por não ter sido pego em flagrante.


Seguem para a Matta o Dr. Costa Gomes acompanhado de Sebastião Gomes, o cabo Pedro Ribeiro Onça (Pedro Onça) e outros. Em todos os povoados da região, por onde passam e inquerem o povo, há negativa de saques e confirmação de apenas quatro mortos.


Na Matta, Felippe Moreira diz ter mandado vários homens dar busca no mato em todas as direções e estes encontraram as quatorze ossadas mas estas não são humanas sendo de jumentos e cachorros, esta afirmação é confirmada pelo Desembargador Mourão.
Os quatro cadáveres dos fuzilados, mesmo tendo sido ocultados, foram encontrados e sepultados.


O Delegado geral diz ter mandado dar buscas no mato e no açude onde diziam ter cadáveres boiando nada sendo encontrado. Não foram confirmados saque, apenas pequenos furtos e, terminada a investigação o Dr. Costa Gomes faz uma audiência pública para tranqüilizar o povo. Por sugestão de Deoclides Mourão o governo envia ferramentas (facão, foice, enxada, machado) para os trabalhadores da Matta para compensar os furtos sofridos durante a invasão. Conclui-se o inquérito feito pelo Delegado Geral do Estado Dr. João da Costa Gomes.


De regresso à Matta, em 20 de outubro de 1921, Manoel Bernardino escreve uma carta ao Sr. Urbano Santos, com cópia ao Diário de São Luís, onde denuncia a inveracidade do inquérito feito pelo Dr. Costa Gomes pois antes de sua chegada os senhores Sebastião Gomes e Pedro Onça (ambos acompanharam o Delegado durante sua investigação) atemorizaram a população, dizendo que “não queriam saber de histórias pois se o governo ainda os mandasse aqui seria para acabar o resto do povo”, isto fez a população abandonar o povoado pois não tendo como se proteger, visto suas armas terem sido tomadas por Sebastião Gomes durante a ocupação, e estando todos sendo ameaçados por grupos armados (de Segastião Gomes, José Pedra, Raimundo Cardoso).

Diz ainda que:
Faltam dois homens que se achavam na Matta quando foi cercada pelas forças: Manoel Sansão e Francisco Velho, dos quais ninguém sabe o paradeiro. Os Srs. Pedra [José e o seu irmão] estão atemorizando o povo ignorante, dizendo que o Tenente Dias vem com duzentas praças atacar novamente a Matta.
A ilegitimidade das investigações é verificada em todos os inquéritos:


o primeiro, feito pelo Major Bello, foi acompanhado por um dos acusados, o Sr. José Lopes Pedra Sobrinho;

o segundo feito pelo Delegado de Codó, Sr. Carlos Bayma, concluiu que Bernardino queria saquear e roubar e o povo da Matta que não o queria de volta, mentiras;

o terceiro, feito pelo Delegado Geral do Estado, Dr. João da Costa Gomes, foi acompanhado por mais um dos acusados, Sebastião Gomes de Golveia.


Além disto tudo vale ressaltar a coerção sofrida pelo povo antes e durante as investigações.


Ambos concluem apenas quatro mortos, o Dr. Costa Gomes ainda apura um outro assassinato em um dos piquetes feitos por Sebastião Gomes mas, ajudado por Felippe Moreira, o crime é dado como falso. Em sua carta (a Urbano e ao Diário) Manoel Bernardino denuncia o desaparecimento de apenas duas pessoas o que nos leva a concluir que foram fuziladas, sob comando do Tenente Dias, apenas quatro pessoas com possibilidade de mais três mortos em piquetes de Sebastião Gomes ou José Pedra.

.

O JULGAMENTO

(PRAÇA DO MERCADO - DOM PEDRO)


No dia 26 de outubro de 1921 na cidade de Codó aconteceu o julgamento, pelos crimes cometidos na Matta, do Tenente Antonio Henrique Dias e das praças executoras da ordem. Para surpresa e revolta de todos O TENENTE DIAS FOI ABSOLVIDO POR UNANIMIDADE. O júri, altamente tendencioso, foi composto por pessoas dependentes dos interessados na absolvição.
(PRAÇA DA ANTIGA "TELMA")


Um telegrama, assinado pelos oficiais: tenente-coronel Bello, Major Ulisses, Capitão Nogueira, Tenentes Sousa, Sampaio, Gaudêncio e, curiosamente, Taurino, é enviado a Urbano Santos, que se encontrava no Rio de Janeiro, com severos protestos que diz:
Atual Ministério Público em DP/MA

Juri Codó influenciado homens sem escrúpulos, acabaram absolver Tenente Dias.
Esse ato constitui degradação moral [...]
[...]saberemos evitar contato aquele barbaramente desonrou dignidade corpo militar cujas honrosas tradições não comportam tamanho ultrage.
Inúteis foram os protestos e as críticas que se seguiram. Ninguém foi devidamente punido, o próprio ASSASSINO foi, depois, promovido a Major e continuou sua carreira até
Comandante da Polícia Militar do Maranhão. O MANDANTE elegeu-se Vice-Presidente da República e o Maranhão segue em frente.

Atual Delegacia de Polícia

E DEPOIS?

Após a “Revolução da Matta”, Manoel Bernardino teve que refazer sua vida, sua
lavoura, sua biblioteca (que fora cortada a facão por gente de Sebastião Gomes).

Praça onde localiza Ministério Público

As crises não acabaram, a diferença era que Bernardino ficara conhecido em todo o Estado, para uns como um arruaceiro, revolucionário, perturbador da ordem; para outros um intelectual, trabalhador, defensor dos fracos contra os fortes.

INGRESSO NA COLUNA PRESTES


Quanto à chegada da Coluna ao Maranhão Luiz Carlos Prestes disse que “Ao entrar no Maranhão fomos recebidos como heróis. Por quê? Por ter vindo do Rio Grande e chegar até o Maranhão... Era um grande feito. O povo todo era simpatizante, por que havia no Maranhão uma grande oposição política ao governo.”



O P.R.M. via na Coluna a possibilidade de tomada do poder por isto foi grande o alvoroço, “se falava, inclusive, na deposição do presidente do Estado, o Sr. Godofredo Viana.” Com os “heróis” em Carolina, “Foi realizada missa[...] hasteada a bandeira nacional [...], sendo queimados em seguida os executivos fiscais para cobrança dos impostos estaduais e municipais [...]”, uma grande festa popular. Estas práticas de queimar livros fiscais, soltar presos, destruir instrumentos de tortura, atraia a simpatia dos humildes e injustiçados.


(alto comando da Coluna prestes)

Na passagem pelo Maranhão a Coluna se dividiu em três. Segundo Prestes:
Foi uma verdadeira divisão estratégica. Uma parte da Coluna ficou comigo e tomamos a direção do rio Balsas,[...]. Uma segunda coluna, comandada por Siqueira Campos para marchar mais ao norte [...]. E uma terceira coluna, que era comandada por João Alberto, para marchar mais pelo centro. Mais todas orientadas no sentido do rio Parnaíba.



(combatentes da Coluna Prestes)


Na Matta, Bernardino se preparava para integrar o destacamento de João Alberto e, no dia 06 de novembro de 1925 invadiu, Curador com 65 homens armados de rifle e usando todos como distintivo uma fita vermelha. Bernardino tratou todos com cortesia e solicitou de alguns comerciantes contribuição para as suas tropas. Não obtendo o resultado esperado, saiu da cidade no dia 08 (nov.) e retornou no mesmo dia à meia-noite, desta vez mais agressivo, invadiu as casas de alguns comerciantes e saqueou as mercadorias, distribuindo à população pobre o que não poderia ser levado.
Nesse saque o mais atingido foi o comerciante Raimundo Freitas que teve os comércio arrasado e sua casa invadida tendo o poço, que servia à casa, envenenado com querosene e soda cáustica. Depois destes saques o comerciante escreve uma carta à Pacotilha denunciando todos os detalhes da invasão.
Foi no destacamento comandado por João Alberto que Manoel Bernardino integrou a Coluna. E, segundo Lourenço Moreira Lima,
a única incorporação à Coluna, de certa importância, foi a de Manoel Bernardino, um pequeno fazendeiro da Zona da Mata, que ali chegou a levantar 200 homens, aderindo ao destacamento de João Alberto, na companhia de Euclides Neiva, um jovem maranhense, que liderava mais outros 50 homens.



A discordância entre Bernardino e a Coluna era que aquele queria que esta se estabelecesse e resistisse no Maranhão contrariando o caráter itinerante da Coluna. Este é o motivo que o leva a abandonar os tenentes. Luiz Carlos Prestes, a respeito de Bernardino, diz que “Manoel Bernardino – conhecido como o ‘Lênin da Mata’, porque defendia os direitos dos fracos e oprimidos- ainda acompanharia a Coluna até o Ceará, [...], onde viria a desertar [...]”.Não temos os detalhes dessa deserção mas o certo é que ele abandonou os rebeldes em 1926 e ficou no Ceará até 1929 quando retorna ao Maranhão indo fixar-se em Carutapera, nas margens do rio Gurupi ali permanecendo por dois anos até resolver voltar à Matta.