segunda-feira, 7 de maio de 2007

BERNARDINO SAI DA CLANDESTINIDADE

Manoel Bernardino, que fora ao Codó tendo lá chegado no dia 7 de agosto, mostra não haver sedição alguma e sim campanha política, pede uma audiência com o Dr. Urbano Santos e segue para São Luís no dia 12 do mesmo mês.
Na capital, Bernardino conferencia com Urbano e concede entrevista ao Diário de São Luís e à Pacotilha mostrando, aos jornais e ao povo, sua elevada cultura.
fotos de Dom Pedro - MA

Em Coda o Delegado Carlos Bayma faz inquérito e conclui que “Manoel Bernardino queria impedir eleições, saquear e roubar. Moradores pedem não deixar Manoel Bernardino voltar à Matta”. Os fatos desmentem, posteriormente, esta conclusão.
Ao Diário de São Luís Bernardino explica seus conflitos com Sebastião Gomes e José Lopes Pedra Sobrinho, sua campanha política, sua carta a Euclydes Maranhão e a conferência com Urbano Santos na qual o Presidente fica “convencido de que ele Manoel Bernardino era vítima das perseguições. Que quanto a ser socialista que ele Urbano Santos também o era e que a vitória do socialismo não estaria longe [...]”

Na Pacotilha a entrevista segue a mesma linha (desafetos, campanha política, boatos) e este periódico emite a seguinte opinião sobre Bernardino:
[...] longe de ser algum chefe de rebeldia, é um homem amigo da legalidade, apenas um pouco transviado por espiritismo, de mistura com vagas influências de leituras de algum livro socialista [...] é um homem de boa índole, lá com suas caraminholas socialistas e espíritas.
Embora faça elogios à personalidade de Bernardino, o jornal faz questão de ridicularizar as doutrinas das quais ele é adepto e ligá-lo aos políticos de Codó com no questionamento publicado no dia seguinte: “Será Manoel Bernardino uma simples vítima das leituras mal assimiladas de Tolstoi e Guerra Junqueiro e revistas de espiritismo ou um agente da politicagem que se oculta sob aquela capa?”
As tristes notícias se espalham pelo Brasil

Vejamos alguns telegramas:
Rio, 19 A “Noite” com títulos garrafais – morticínio de cem irmãos brasileiros fuzilados no Maranhão, mas no Brasil o sangue das vítimas clama justiça- [...]
Rio 20 A “Gazeta” a atitude do Sr. Urbano Santos, esforçando-se para apurar gravíssima denúncia [...] é digna do seu passado político e revela a sua envergadura de homem público.
Belo Horizonte, 21 A opinião pública está alarmada com a notícia de morticínio no Maranhão.

O Tenente Dias, preso no quartel, admite os fuzilamentos e entrega uma declaração a Nascimento de Morais, redator do Diário de São Luís, em que diz apenas cumprira ordens do Sr. Urbano Santos para que:


Chegando à Matta espingardeasse um grupo de cangaceiros que ali existia chefiados por Manoel Bernardino. Por mais de uma vez em seu palácio o Sr. Dr. Presidente recomendou [...] que espingardeasse todos os bandidos custasse o que custasse e que contasse [...] com todo o apoio do governo;
[...] e de fato a força espingardeou quatro cangaceiros porque eu e o Tenente Taurino recebemos ordens do exm° Sr. Dr.
Presidente do Estado para isso fazer.

Essa declaração acusa diretamente o Presidente do Estado pelos fuzilamentos por ter dado ordens explícitas de matar “todos”os revoltosos.
Isso acirra ainda mais a campanha para Presidente da República, pois o candidato a Vice-Presidente da chapa situacionista é acusado de um crime bárbaro que já tomara as páginas dos jornais mais importantes do país. A oposição ataca.

Os desdobramentos tomam tal proporção que o Senador, e sucessor de Urbano, Godofredo Viana usa a tribuna para defender Urbano Santos, afirmando que “dos sessenta e quatro municípios [do Maranhão] apenas em sete existe força militar [...] [quanto à Matta] houve excessos positivamente selvagens executados pela força policial [mas as cem vítimas] foi apenas uma multiplicação feita pela mente incendiada da paixão partidária” .


O Oficial ainda declara está sendo coagido a retirar o que dissera assumindo os fuzilamentos que o Presidente o protegeria mas, ao invés disto, ele continua afirmando ter cumprido ordens, isto o leva a ficar incomunicável no quartel .
As denúncias levam o próprio Urbano a conceder entrevista à Pacotilha na qual diz que:


eles já sabiam o que iam fazer na Matta [?] que agissem conforme as circunstâncias aconselhassem [...] [quanto a Deoclides Mourão teria dito que] uma comissão militar da natureza da que iam desempenhar, não se olhava a posição nem a classe dos indivíduos envolvidos na desordem. A força somente podia considerar que tinha diante de si duas ordens de pessoas – os homens pacíficos e os desordeiros [...]

Essa entrevista não desmente totalmente as acusações de Dias, até as ratificam em alguns pontos, complicando ainda mais a situação do Presidente do Estado.


Em princípio de setembro de 1921 o Major Bello termina o inquérito chegando à conclusão de que foram fuzilados quatro indivíduos a mando do Tenente Antonio Henrique Dias. Mas antes da chegada deste oficial à Matta, o Sr. José Pedra aterrorizou a população dizendo que o Major iria sangrar os que falassem em assassinato espalhando ainda que “Manoel Bernardino estava preso e condenado a trinta anos de prisão, e que não voltaria mais à Matta.”. Quando o Major foi ao povoado foi José Pedra quem o “guiou” pela região.
Portanto a conclusão do inquérito não pode ter nenhum crédito de veracidade dado a coerção que as pessoas da Matta foram submetidas antes e durante a visita do inquiridor.


Em meados de setembro surgiram denúncias de terem sido praticados muitos saques na Matta e encontradas quatorze ossadas humanas levando a um novo inquérito, este feito pelo Delegado Geral do Estado Sr. João da Costa Gomes que partiu para a Matta no dia vinte e seis de setembro acompanhado, entre outros, de mais um acusado, o Sr. Sebastião Gomes de Golveia.


O Diário de São Luís diz que no terminal ferroviário de São Luís, Bernardino estava presente e bradou contra Sebastião Gomes:


-
Ali está, meus senhores o principal responsável pelos crimes da Matta, ali está o homem perigoso que persegue os pobres os pequenos, e no entanto a lei os protege!

Vê-se que a coragem de Bernardino beira a insensatez, desafiar e ofender em público uma autoridade policial dada a todo tipo de arbitrariedade em uma região em que ele “é” a lei e para onde o próprio Bernardino regressará, parece quase um suicídio.

O juiz de direito de Tutoia, Sr. Francisco Moreira (filho de Felippe Moreira), concede uma entrevista ao Diário de São Luís que o pergunta, entre outras, se Manoel Bernardino é mal visto na Matta (como disse o Delegado de Codó na conclusão de seu inquérito) ao que o juiz responde:
- Absolutamente. A maioria dos habitantes, que me procuraram na Matta, fala bem de Manoel Bernardino e lá o aguarda ainda ansiosamente. Manoel Bernardino é um tipo curioso, homem de muita atividade e pronto sempre a amparar os infelizes e perseguidos [...].

Quando o Dr. Costa Gomes chega em Codó, antes de partir para a Matta, encontra detido o Sr. José Lopes Pedra Sobrinho acusado de ocultar os cadáveres e ser cúmplice nos fuzilamentos fornecendo uma lista dos “cangaceiros” de Bernardino ao tenente Dias. Diante destas acusações o Delegado geral manda soltá-lo sob alegação de que a lista era apenas uma suspeita, os cadáveres já terem sido vistos por muitos e por não ter sido pego em flagrante.


Seguem para a Matta o Dr. Costa Gomes acompanhado de Sebastião Gomes, o cabo Pedro Ribeiro Onça (Pedro Onça) e outros. Em todos os povoados da região, por onde passam e inquerem o povo, há negativa de saques e confirmação de apenas quatro mortos.


Na Matta, Felippe Moreira diz ter mandado vários homens dar busca no mato em todas as direções e estes encontraram as quatorze ossadas mas estas não são humanas sendo de jumentos e cachorros, esta afirmação é confirmada pelo Desembargador Mourão.
Os quatro cadáveres dos fuzilados, mesmo tendo sido ocultados, foram encontrados e sepultados.


O Delegado geral diz ter mandado dar buscas no mato e no açude onde diziam ter cadáveres boiando nada sendo encontrado. Não foram confirmados saque, apenas pequenos furtos e, terminada a investigação o Dr. Costa Gomes faz uma audiência pública para tranqüilizar o povo. Por sugestão de Deoclides Mourão o governo envia ferramentas (facão, foice, enxada, machado) para os trabalhadores da Matta para compensar os furtos sofridos durante a invasão. Conclui-se o inquérito feito pelo Delegado Geral do Estado Dr. João da Costa Gomes.


De regresso à Matta, em 20 de outubro de 1921, Manoel Bernardino escreve uma carta ao Sr. Urbano Santos, com cópia ao Diário de São Luís, onde denuncia a inveracidade do inquérito feito pelo Dr. Costa Gomes pois antes de sua chegada os senhores Sebastião Gomes e Pedro Onça (ambos acompanharam o Delegado durante sua investigação) atemorizaram a população, dizendo que “não queriam saber de histórias pois se o governo ainda os mandasse aqui seria para acabar o resto do povo”, isto fez a população abandonar o povoado pois não tendo como se proteger, visto suas armas terem sido tomadas por Sebastião Gomes durante a ocupação, e estando todos sendo ameaçados por grupos armados (de Segastião Gomes, José Pedra, Raimundo Cardoso).

Diz ainda que:
Faltam dois homens que se achavam na Matta quando foi cercada pelas forças: Manoel Sansão e Francisco Velho, dos quais ninguém sabe o paradeiro. Os Srs. Pedra [José e o seu irmão] estão atemorizando o povo ignorante, dizendo que o Tenente Dias vem com duzentas praças atacar novamente a Matta.
A ilegitimidade das investigações é verificada em todos os inquéritos:


o primeiro, feito pelo Major Bello, foi acompanhado por um dos acusados, o Sr. José Lopes Pedra Sobrinho;

o segundo feito pelo Delegado de Codó, Sr. Carlos Bayma, concluiu que Bernardino queria saquear e roubar e o povo da Matta que não o queria de volta, mentiras;

o terceiro, feito pelo Delegado Geral do Estado, Dr. João da Costa Gomes, foi acompanhado por mais um dos acusados, Sebastião Gomes de Golveia.


Além disto tudo vale ressaltar a coerção sofrida pelo povo antes e durante as investigações.


Ambos concluem apenas quatro mortos, o Dr. Costa Gomes ainda apura um outro assassinato em um dos piquetes feitos por Sebastião Gomes mas, ajudado por Felippe Moreira, o crime é dado como falso. Em sua carta (a Urbano e ao Diário) Manoel Bernardino denuncia o desaparecimento de apenas duas pessoas o que nos leva a concluir que foram fuziladas, sob comando do Tenente Dias, apenas quatro pessoas com possibilidade de mais três mortos em piquetes de Sebastião Gomes ou José Pedra.

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Um comentário:

Unknown disse...

lindo esse lugar...amo dom pedro